Emília no País da Gramática, de Monteiro Lobato, deveria constar na bibliografia recomendada a todo estudante e professor que se propusesse a estudar Português – Língua Materna – e seus reais fenômenos lingüísticos.
Lobato, através dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo, dialoga com o leitor acerca da língua e seus fenômenos de variação e mudança, nesse texto publicado em 1934, quando ainda a Lingüística – ciência da Linguagem – não havia conquistado relevante lugar no mundo acadêmico e a Gramática Normativa imperava absoluta.
O escritor, na voz da mais irreverente de suas personagens, destaca o dinamismo da língua, com seus usos e desusos: “Pois o tal tu... O que deve fazer é ir arrumando a trouxa e pondo-se a fresco... Para nós o tu está velho e coroca.” E é assim que a boneca Emília decreta a aposentadoria do pronome TU, evidenciando, dessa forma, que a língua é o que são seus falantes. É nesse jogo de interação – língua e falante – que a Linguagem se manifesta, se concretiza.
Durante a visita ao País da Gramática, os moradores do sítio conhecem D. Etimologia, velha guardiã dos segredos que revelam a origem das palavras da Língua Portuguesa. “Tomemos a palavra latina speculum – continuou a velha – essa palavra emigrou para Portugal... e foi sendo gradativamente errada até ficar com a forma que tem hoje – Espelho.” Nesse trecho, D. Etimologia é a metáfora do Preconceito Lingüístico, pois considera como erro o que, de fato, é um fenômeno de mudança lingüística – (speculum > espelho) não por comodismo dos falantes, como afirma a velha personagem em outro trecho do texto, mas pela função social da língua. “... as mudanças que ocorrem na língua são fruto de ação coletiva de seus falantes, uma ação impulsionada pelas necessidades qiue esses falantes sentem de se comunicar melhor, de dar mais precisão ou expressividade ao que querem dizer, de enriquecer as palavras já existentes com novos sentidos... de criar novas palavras...” (in.Bagno,Nada na língua é por acaso,p.168).
Em continuidade à conversa, D.Etimologia diz que as formas “erradas” das palavras passam a ser consideradas certas no momento em que os falantes cultos as aceitam como tal. Mas isso não ocorre de uma hora para outra,pois a mudança surge da concorrência entre as formas inovadora e conservadora das palavras.Na verdade,há uma espécie de competição onde as denominadas forças centrífugas,responsáveis pelo movimento da língua,concorrem com forças centrípetas que tentam refrear o movimento e preservar o mito do monolinguismo brasileiro.
“A língua é uma criação popular na qual ninguém manda. Quem a orienta é o Uso e só ele. (...) O uso aceita as reformas simplificadoras, mas repele as reformas complicadoras.” As forças centrípetas conseguem adiar, temporariamente, a mudança, mas, cedo ou tarde, rendem-se a ela, conforme destaca Lobato através dessa fala do personagem Quindim.
Lobato, através dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo, dialoga com o leitor acerca da língua e seus fenômenos de variação e mudança, nesse texto publicado em 1934, quando ainda a Lingüística – ciência da Linguagem – não havia conquistado relevante lugar no mundo acadêmico e a Gramática Normativa imperava absoluta.
O escritor, na voz da mais irreverente de suas personagens, destaca o dinamismo da língua, com seus usos e desusos: “Pois o tal tu... O que deve fazer é ir arrumando a trouxa e pondo-se a fresco... Para nós o tu está velho e coroca.” E é assim que a boneca Emília decreta a aposentadoria do pronome TU, evidenciando, dessa forma, que a língua é o que são seus falantes. É nesse jogo de interação – língua e falante – que a Linguagem se manifesta, se concretiza.
Durante a visita ao País da Gramática, os moradores do sítio conhecem D. Etimologia, velha guardiã dos segredos que revelam a origem das palavras da Língua Portuguesa. “Tomemos a palavra latina speculum – continuou a velha – essa palavra emigrou para Portugal... e foi sendo gradativamente errada até ficar com a forma que tem hoje – Espelho.” Nesse trecho, D. Etimologia é a metáfora do Preconceito Lingüístico, pois considera como erro o que, de fato, é um fenômeno de mudança lingüística – (speculum > espelho) não por comodismo dos falantes, como afirma a velha personagem em outro trecho do texto, mas pela função social da língua. “... as mudanças que ocorrem na língua são fruto de ação coletiva de seus falantes, uma ação impulsionada pelas necessidades qiue esses falantes sentem de se comunicar melhor, de dar mais precisão ou expressividade ao que querem dizer, de enriquecer as palavras já existentes com novos sentidos... de criar novas palavras...” (in.Bagno,Nada na língua é por acaso,p.168).
Em continuidade à conversa, D.Etimologia diz que as formas “erradas” das palavras passam a ser consideradas certas no momento em que os falantes cultos as aceitam como tal. Mas isso não ocorre de uma hora para outra,pois a mudança surge da concorrência entre as formas inovadora e conservadora das palavras.Na verdade,há uma espécie de competição onde as denominadas forças centrífugas,responsáveis pelo movimento da língua,concorrem com forças centrípetas que tentam refrear o movimento e preservar o mito do monolinguismo brasileiro.
“A língua é uma criação popular na qual ninguém manda. Quem a orienta é o Uso e só ele. (...) O uso aceita as reformas simplificadoras, mas repele as reformas complicadoras.” As forças centrípetas conseguem adiar, temporariamente, a mudança, mas, cedo ou tarde, rendem-se a ela, conforme destaca Lobato através dessa fala do personagem Quindim.